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Cuidar até Adoecer: Gritos Reprimidos por Valorização e o Adoecimento Mental da Enfermagem Brasileira

Por Enfermeiro Rafael Lopes – Juazeiro do Norte, CE

21.05.2025

Em meio à histórica desvalorização da enfermagem – a maior categoria profissional da saúde no Brasil – há vozes que pedem socorro em silêncio. E isso tem reflexo direto no que chamamos de saúde mental. Jornadas exaustivas, sobrecarga, ambientes insalubres, desgaste emocional, insegurança, acúmulo de funções, salários incompatíveis com a responsabilidade laboral e inúmeras outras lacunas contribuem para o adoecimento daqueles que cuidam, transformam e salvam vidas.

Tornou-se cada vez mais comum encontrar enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem enfrentando crises de ansiedade, depressão ou esgotamento físico-emocional, também chamado de Síndrome de Burnout. São trabalhadores e trabalhadoras que, mesmo adoecidos emocionalmente, continuam na labuta, exercendo sua profissão, cuidando do outro com empatia e dedicação, pois esse foi o seu juramento profissional. Mas, em meio a todo esse caos, uma pergunta se torna ainda mais necessária: quem cuida de quem cuida?

São impactantes os números apresentados pelo Ministério da Previdência Social, que apontam que, desde a pandemia da COVID-19, tem crescido o número de licenças médicas concedidas por transtornos mentais aos trabalhadores brasileiros em geral, chegando ao marco histórico de aproximadamente meio milhão de profissionais afastados de suas funções somente no ano de 2024.

No fundo de todo esse desgaste mental, precisamos destacar que a desvalorização é o eixo principal desse colapso. Mesmo após décadas de luta pelo piso salarial da enfermagem – hoje garantido “teoricamente” pela Lei nº 14.434/2022, uma das maiores conquistas da história da enfermagem brasileira –, muitos profissionais, principalmente os que exercem atividades na rede privada de saúde e/ou em cooperativas, enfrentam grande resistência e negação por parte dos patrões quanto à sua implementação efetiva. Como se já não bastassem a ausência de condições dignas de trabalho e os direitos trabalhistas extirpados de forma escancarada em todo o país, muitas vezes esses abusos sequer são percebidos pelos olhos da Justiça.

A enfermagem segue invisibilizada nas políticas públicas, e esse abandono institucional corrói a autoestima e contribui seriamente para o ciclo contínuo de adoecimento de toda a categoria. Quem lida diariamente com o sofrimento alheio necessita de suporte para que possa, assim, preservar seu bem-estar psíquico – o que vai muito além de palmas e da titulação de “heróis”. Heróis estes que, paradoxalmente, aos olhos dos que “mandam”, não podem adoecer, sofrer, cansar ou clamar por direitos. Afinal, heróis não descansam, estão sempre prontos, não têm tempo para a família, não vivem socialmente e não necessitam de cuidados: eles cuidam.

O investimento em ações de cuidado e manutenção da saúde mental, desprecarização dos vínculos trabalhistas, combate a todos os tipos de assédio, segurança no ambiente laboral, dimensionamento adequado, garantia de direitos trabalhistas, descanso digno, redução da jornada de trabalho, efetivação do pagamento adequado e reajuste salarial, entre tantas outras questões, são ações fundamentais para combater o imenso desgaste e sofrimento da categoria.

Os gritos por valorização e dignidade desses trabalhadores não podem ser abafados pela rotina exaustiva, pelo descaso ou pela política. Eles precisam ecoar, antes que o silêncio se transforme em desistência ou tragédia.

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