Exposição destaca profissionais negros na Enfermagem

Para o presidente do Coren-CE, Osvaldo Albuquerque Sousa Filho, a indicação da homenageada foi um consenso do plenário cearense.

25.11.2015

A história da Enfermagem brasileira e a contribuição dos profissionais afrodescendentes é tema da exposição inaugurada nesta terça-feira (24/11) pelo Museu Nacional de Enfermagem Anna Nery – MuNEAN, no centro histórico de Salvador. Sob uma perspectiva de história viva e em construção, a exposição também faz referência aos profissionais que se destacam pela sua contribuição social, cultural e militante para a Enfermagem. Homenageados na abertura da exposição, os profissionais se emocionaram ao recordar suas trajetórias, marcadas pela militância e pela superação de dificuldades.

“Costumo dizer que tenho três grandes qualidades: ser mulher, negra e enfermeira. Essas circunstâncias marcam minhas história, meus valores”, afirmou, emocionada, a conselheira federal Fátima Sampaio. Homenageada, ela também recebeu a premiação em nome do presidente do Cofen, Manoel Neri. O papel de ambos para a abertura e funcionamento do MuNEAN foi destacado pela diretora do museu, Maria Júlia Lemos.

“Esse reconhecimento, às vésperas da minha aposentadoria, é algo que muito me emociona, me honra, e me levou a colocar no papel, pela primeira vez, minha trajetória como profissional de Enfermagem, como negra, como mulher. Homenagem boa é a feita em vida”, conta a enfermeira Luzia Pereira, que iniciou sua trajetória como auxiliar de Enfermagem.”Somos tantas vezes chamadas de neguinha, em tom pejorativo, que às vezes parecem dizer que nossas conquistas não têm mérito, mas por benesse ou por acaso”, destacou Vera Lúcia, indicada pelo Rio Grande do Norte.

O Conselho Regional de Enfermagem do Ceará (Coren-CE), indicou para receber a homenagem a enfermeira Maria Jose do Espírito Santo.

Determinação – Graduada em Enfermagem pela Escola de Enfermagem São Vicente de Paula da Universidade do Ceará em 1964. Especialista em Metodologia do Ensino e da Assistência de Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola Ana Nery. Enfermeira do Hospital Universitário Walter Moura Cantidio da Universidade Federal do Ceara– Chefiou Clinica Medica / Centro Cirúrgico e Cirurgia cardio vascular. Implantou e chefiou as Unidades de Terapia Intensiva do HC e Serviço de Hemodinâmica. Na UTI implantou a prescrição de enfermagem para todos os pacientes, Iniciou a docência em 1982 na Universidade Estadual do Ceará – UECE no curso de Graduação em Enfermagem da disciplina Enfermagem Fundamental. Implantou e coordenou o projeto de extensão AIDS e a Universidade financiado pelo Ministério da Saúde, envolvendo estudantes das diversas áreas do conhecimento e comunidade.

Para o presidente do Coren-CE, Osvaldo Albuquerque Sousa Filho, a indicação da homenageada foi um consenso do plenário cearense, pela luta histórica que Maria José imprime na Enfermagem cearense, se tornando referência nacional e orgulho da profissão.

Resiliência – “Também estou emocionada, mas já não choro”, disse a enfermeira Valmira dos Santos, destacando a importância da resiliência em sua trajetória como primeira professora doutora negra da UFBA. “Resiliência é a capacidade de, após grande pressão, voltar ao seu estado normal sem maiores danos. Isto eu aprendi, e talvez o fato de a minha tese ter sido sobre equalização do estresse tenha me ajudado a lidar, sem adoecer, com tantos fatores estressores na reestruturação da pós-graduação”. Aos 73 anos, a professora emérita da UFBA continua a atuar, agora em Sergipe.

Resgate histórico – Indicada pelo Coren-MG por sua militância sindical e em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), Angela dos Santos visitou atentamente a exposição, que lhe abriu novas perspectivas sobre as contribuições dos profissionais negros à Enfermagem. “Espero que muitos tenham esta oportunidade de conhecer o papel dos afrodescendentes na construção da Saúde brasileira”, afirmou.

A exposição apresenta trajetórias pouco conhecidas de profissionais de Enfermagem, como a de mãe Stella de Oxóssi. Ialorixá e membro da Academia Baiana de Letras, mãe Stella é também enfermeira, tendo exercido a profissão por três décadas até se aposentar. Nair Paula de Melo, enfermeira da Força Expedicionária Brasileira (FEB), é uma das homenageadas em painel, assim como os primeiros alunos negros das escolas de Enfermagem, e os milhares de afrodescendentes que atuavam no cuidado, antes da institucionalização da profissão.

Homenageados